Se você maratonou Desobedientes na Netflix e ficou com uma pulga atrás da orelha sobre a identidade de Alex, não está sozinho. A série chegou ao topo da audiência global e deixou muita gente se perguntando: Alex é trans? E mais: isso tem algo a ver com Mae Martin, que interpreta o personagem?
A resposta curta: sim, Alex é um homem trans. Mas não, isso não reflete diretamente a identidade de gênero de Mae. Agora, se você quer entender o que tudo isso significa dentro da história e fora das telas, vem comigo — porque tem muito mais nuance nesse enredo do que parece à primeira vista.
Alex é um homem trans — mas isso não define a série
Na trama de Desobedientes, Alex é um policial que se muda para uma nova cidade com sua esposa grávida, Laura. A princípio, tudo parece calmo… até que estranhos eventos começam a acontecer. Mas é em momentos sutis que descobrimos que Alex é um homem trans — como quando Laura menciona o crescimento de sua barba, por exemplo.
Só que aqui vai um ponto importante: a série não gira em torno disso. A identidade trans de Alex é uma parte dele, mas não o centro da narrativa.
Essa foi uma escolha intencional dos criadores, especialmente de Mae Martin, que também é showrunner da série. Segundo elx (Mae é uma pessoa não binária e usa pronomes neutros), a ideia era mostrar um personagem trans vivendo uma história intensa, sem que sua identidade de gênero seja tratada como um trauma ou drama constante.
“É importante vermos personagens queer em que isso não seja o aspecto definidor”, afirmou em entrevista ao Los Angeles Times.
Mae Martin não é trans — é uma pessoa não binária
Apesar de interpretar um homem trans na série, Mae Martin é uma pessoa não binária. Elx revelou isso publicamente em 2021, dizendo que não se identifica como exclusivamente homem nem como mulher.
Ou seja: Mae e Alex não compartilham da mesma identidade de gênero. Mas isso não tira a autenticidade da interpretação — pelo contrário. A atuação de Mae traz sensibilidade e profundidade a um personagem complexo, que vive o desafio de manter uma família, lidar com a moralidade e enfrentar suas próprias sombras.
E esse é um ponto super relevante: atores queer podem e devem ocupar espaços diversos, representando a pluralidade da experiência humana sem ficarem restritos a um único tipo de papel.
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A busca de Alex por aceitação e normalidade
Uma das partes mais interessantes de Desobedientes é como Alex tenta viver uma “vida normal” dentro de um modelo tradicional de masculinidade. Ele quer ser o protetor, o chefe da família, o homem da casa — e, aos poucos, essa busca por aceitação vai colocando tudo à prova.
Essa jornada traz à tona um conflito delicado: até que ponto vale se encaixar para ser aceito? Alex enfrenta dilemas éticos, situações-limite e uma tensão constante entre sua identidade interna e as expectativas externas.
Segundo Mae, essa foi uma escolha narrativa proposital: mostrar que pessoas trans também enfrentam dúvidas, erros, relacionamentos complicados e pressões sociais — assim como qualquer um.
Representatividade com camadas (e sem estereótipos)
Num momento em que personagens LGBTQIA+ ainda são tratados com superficialidade ou usados apenas como alívio cômico ou sofrimento puro, Desobedientes acerta ao mostrar um homem trans em uma trama de suspense, com conflitos reais, profundos e… humanos.
A série foge do estereótipo e aposta na autenticidade — e isso é mérito direto de Mae Martin, que já se destacou anteriormente em Feel Good e agora assume ainda mais protagonismo como criador e estrela.
Inclusive, em tempos de retrocessos e ataques a direitos da comunidade LGBTQIA+ (especialmente de pessoas trans), essa representatividade naturalizada é mais do que bem-vinda — é necessária.
Conclusão: a identidade de Alex é só uma parte da história (e tá tudo bem)
Sim, Alex é um homem trans. E sim, Mae Martin é uma pessoa não binária. Mas o que torna Desobedientes especial não é apenas isso. É a forma como a série constrói seus personagens com camadas, contradições e humanidade — sem reduzir ninguém a uma única característica.
E talvez seja justamente esse o recado mais potente da série: todo mundo merece ser retratado com profundidade. Seja você trans, cis, não binárie, hétero, gay, estranho, confuso ou tudo isso junto.
No fim das contas, Desobedientes não é sobre identidade de gênero. É sobre ser humano em um mundo que insiste em colocar rótulos onde só deveria haver empatia.