Na década de 1970, John Wayne Gacy, morador de Illinois, sequestrou, estuprou e assassinou pelo menos 33 jovens. Condenado e sentenciado à morte em 1994, Gacy operou por anos nos subúrbios de Chicago, ocultando seus crimes à vista de todos. Apesar de tentativas de sobreviventes de alertar a polícia de Chicago e de uma prisão em 1968 por sodomia contra um adolescente, ele permaneceu livre, acumulando corpos no porão de sua casa.
A série “Devil in Disguise: John Wayne Gacy” mergulha nas camadas complexas de Gacy, suas vítimas e as instituições culturais e sociais que permitiram sua onda de assassinatos, focada principalmente em homens gays. A minissérie, com oito episódios, examina por que as vítimas e seus familiares não foram levados a sério pelas autoridades. Teria sido possível evitar dezenas de assassinatos entre 1972 e 1978 se a polícia tivesse investigado adequadamente?
A narrativa, criada por Patrick Macmanus, toma liberdades criativas ao ficcionalizar elementos, mas se mantém fiel aos eventos reais. Apresenta os principais personagens: Gacy, interpretado por Michael Chernus, os detetives Rafael Tovar (Gabriel Luna) e Joe Kozenczak (James Badge Dale), o advogado de defesa de Gacy, Sam Amirante (Michael Angarano), e o promotor Bill Kunkle (Chris Sullivan).
A série começa com Elizabeth Piest (Marin Ireland), uma mãe desesperada, tentando registrar o desaparecimento de seu filho Robert. Inicialmente, a polícia minimiza sua preocupação, alegando que não havia tempo suficiente para considerá-lo desaparecido. No entanto, a insistência incansável de Elizabeth de que algo estava errado desencadeia a busca que leva a Gacy. A investigação revela que Robert foi visto pela última vez saindo do trabalho com Gacy, que supostamente o contrataria para sua empresa de reformas.
Nos episódios subsequentes, os detetives pressionam Gacy a cooperar, descobrem os corpos em decomposição de 29 jovens em seu porão e exploram o passado do assassino, bem como a história de suas vítimas.
A interpretação de Chernus de Gacy é perturbadora, mostrando-o caminhando casualmente pela casa com os detetives, indicando onde os corpos estavam enterrados. A confissão de Gacy ao advogado de defesa é igualmente sinistra. Amirante fica tão perturbado que adverte os policiais que vigiam Gacy: “Se ele tentar fugir, atirem nos pneus dele”.
Outro detalhe horripilante é a identidade alternativa de Gacy como Pogo, o Palhaço. Fotos de palhaços na casa de Gacy revelam que ele se vestia como palhaço para eventos comunitários, incluindo visitas a hospitais infantis. Em cenas posteriores, Gacy usa a fantasia de palhaço para atormentar suas vítimas, usando fantoches em sequências grotescas.
A série detalha as vidas das vítimas, mostrando os momentos que as colocaram em perigo. O mais doloroso é a percepção de que esses crimes poderiam ter sido evitados se a polícia tivesse dado ouvidos aos relatos de alguns jovens e seus entes queridos.
“Devil in Disguise” destaca a homofobia arraigada dos anos 1970, presente cultural, social e legalmente. As vítimas de Gacy não foram levadas a sério pela polícia em grande parte por serem gays. Uma cena impactante mostra Jeffrey Rignall (Augustus Prew), um sobrevivente de Gacy, sendo aconselhado a abandonar seu processo civil contra o serial killer, que entrou com uma ação alegando que Rignall o drogou, agrediu e chantageou. Apesar de evidências médicas de ferimentos de Rignall, o advogado explica que o caso provavelmente será descartado devido à natureza da alegação e à falta de recursos para lidar com ela.
Quase 50 anos depois, ainda é difícil para vítimas de agressão sexual denunciarem, mas “Devil in Disguise” ilustra como era praticamente impossível para homens gays nos anos 1970. A série também mostra os detetives Gabriel Luna e James Badge Dale lidando com suas próprias falhas em relação às vítimas e suas famílias, mostrando seu crescimento ao longo da história.
“Devil in Disguise” serve como um lembrete da importância de abordar o preconceito e a intolerância.
Fonte: www.thewrap.com