Você já se pegou torcendo por alguém que, em teoria, não deveria? Tipo o Walter White, de Breaking Bad — um ex-professor de química que virou chefão do tráfico de drogas. Pois é. Acontece mais do que a gente imagina. O cara mente, engana, mata… e mesmo assim, a gente vibra com cada plano bem-sucedido dele.
Mas por que vilões como Walter White despertam empatia, torcida e até admiração? A resposta está na psicologia — e entender isso revela muito sobre nós mesmos, nossas emoções e a forma como consumimos histórias. Bora entrar nessa?
Eles não nascem maus — e a gente vê isso
Uma das razões mais fortes para torcermos por vilões como Walter White é o fato de que suas histórias têm um começo humano, real. Eles não são apresentados como monstros, e sim como pessoas comuns que, em algum momento, quebraram.
No caso do Walter, a gente conhece o pai de família, doente, sufocado por dívidas. Ele é empurrado para uma escolha difícil — e, ao invés de recuar, mergulha de cabeça. Acompanhar essa transição nos faz entender (ou ao menos justificar) suas atitudes.
Esse tipo de construção emocional é chamada de “humanização do vilão”, e ela mexe com um mecanismo importante do nosso cérebro: a empatia seletiva. A gente se conecta com quem compreendemos. E quando a série nos convida a acompanhar a jornada do personagem desde o início, é difícil não se envolver.
A moral cinza é mais interessante que o preto no branco
Outro fator curioso: nós adoramos uma boa ambiguidade moral. Personagens perfeitos ou totalmente malignos costumam ser… bem, entediantes. Já os vilões como Walter White vivem na zona cinzenta — e isso prende nossa atenção.
Eles cometem erros, mas também têm justificativas. Eles fazem coisas horríveis, mas por motivos “nobres” (ao menos no início). E aí a gente se vê naquele dilema interno: “Ele está errado, mas… eu entendo.”
Essa complexidade desperta o que os psicólogos chamam de dissonância cognitiva — uma tensão mental que acontece quando nosso cérebro tenta equilibrar duas ideias opostas. E adivinha? Essa tensão é viciante. Queremos ver até onde eles vão. Se vão se redimir. Ou se vão afundar de vez.
Espelhos distorcidos da nossa própria realidade
Em muitos casos, vilões como Walter White servem como uma espécie de espelho — ainda que distorcido — dos nossos próprios desejos reprimidos. Quantas vezes você já teve vontade de “explodir tudo” diante de uma injustiça ou situação extrema?
Esses personagens vivem impulsos que a maioria de nós apenas fantasia. Eles quebram regras, enfrentam o sistema, se rebelam contra o que parece impossível. Mesmo que façam isso de forma destrutiva, há um senso de catarse envolvido.
E não dá pra ignorar o charme da transformação. Ver um personagem comum se tornar alguém poderoso, temido e dominante ativa no espectador um sentimento de “vingança por procuração”. É como se, por alguns minutos, a gente pudesse ser tão destemido quanto ele.
A narrativa manipula — e a gente adora
Por trás de toda essa conexão emocional com vilões como Walter White, há algo que não podemos esquecer: a manipulação narrativa. E ela é brilhante.
As séries e filmes constroem roteiros que nos levam exatamente para onde querem. E isso inclui:
- Trilha sonora emocional nas cenas certas
- Câmeras que captam expressões humanas e vulneráveis
- Falas que expõem o lado “bonzinho” do vilão
- A ausência de alternativas mais nobres ao redor
Esses recursos fazem com que a gente racionalize o irracional. A gente aceita, por exemplo, que um personagem cause mortes porque “ele só queria cuidar da família”. Mesmo quando ele já passou desse objetivo há muito tempo.
Esse fenômeno é tão poderoso que muitos especialistas o comparam a um tipo de efeito halo invertido: o personagem faz algo bom e isso contamina nossa percepção sobre tudo que ele faz depois — mesmo quando são atos condenáveis.
E no fim, será que ele ainda é o mocinho?
Ao torcer por vilões como Walter White, a gente entra num território delicado. O que isso diz sobre nós? Que somos coniventes? Imorais? Não necessariamente. A verdade é que a ficção permite algo que a vida real não permite: explorar o “e se”.
Na vida real, não há música de fundo, nem roteiro bem escrito. Mas na TV, podemos experimentar emoções intensas, dilemas morais e finais trágicos — sem as consequências reais.
E isso é libertador.
Nem todo herói usa capa (e nem todo vilão é o diabo)
A verdade é que vilões como Walter White nos atraem porque eles são tudo… menos simples. Eles nos fazem pensar, sentir, duvidar e até nos colocam frente a frente com os nossos próprios limites morais.
E talvez seja justamente isso que nos faz voltar episódio após episódio: o fascínio pelo que é imperfeito, contraditório — e profundamente humano.
Ah, e se você também já torceu por um vilão, não precisa se culpar. Só mostra que você é humano. E que, assim como ele, carrega várias camadas dentro de si.