O medo como arte: como Guillermo del Toro transforma traumas em beleza

monstros de Guillermo del Toro

Sabe aquele arrepio que percorre a espinha quando a luz apaga e o silêncio toma conta? Guillermo del Toro transformou essa sensação — que muitos evitam — em poesia visual. Para ele, o medo não é o fim da linha. É o começo de algo mágico. Um portal entre dor e beleza. Entre monstros e humanidade.

Neste artigo, vamos explorar como esse gênio do cinema usa seus traumas pessoais para criar mundos que, mesmo sombrios, são profundamente acolhedores. E o mais curioso? A beleza está justamente no que assusta.

Trauma, fantasia e o olhar de Guillermo del Toro

Guillermo del Toro não esconde suas cicatrizes — ele as exibe como parte da narrativa. Desde a infância marcada por doenças, abusos e perdas, ele aprendeu a dar forma ao que o machucava. Mas não qualquer forma. Criaturas, florestas encantadas, soldados com olhos costurados e meninas que conversam com fadas mortas — tudo isso nasce de lembranças reais transformadas em arte.

A chave está em como ele enxerga o medo: não como vilão, mas como ferramenta de sobrevivência emocional. Em O Labirinto do Fauno, por exemplo, a dor da guerra civil espanhola vira um conto de fadas sombrio, onde a imaginação protege a protagonista da crueldade real. O filme, assim como muitos de seus trabalhos, não tenta apagar o trauma — ele o abraça.

Os monstros de Guillermo del Toro não querem te assustar

Quando pensamos em monstros, imaginamos ameaças. Criaturas que espreitam no escuro esperando o momento de atacar. Mas com del Toro, é diferente. Ele vira o jogo: os verdadeiros vilões costumam ser humanos cruéis, autoritários, insensíveis. Os monstros? Muitas vezes são os mais sensíveis, rejeitados, frágeis.

Em A Forma da Água, o “monstro” é uma criatura aquática aprisionada e torturada, enquanto o monstro real veste terno, fala alto e abusa do poder. E quem se apaixona pela criatura? Uma mulher muda, igualmente marginalizada. É aí que a beleza acontece: dois seres fora do padrão, invisíveis à sociedade, se reconhecem e se amam.

Isso se repete em Hellboy, A Colina Escarlate e até em seus projetos animados. O medo está presente, sim, mas sempre carregado de empatia. Os monstros de Guillermo del Toro não são obstáculos. São pontes entre mundos.

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O medo como refúgio estético e emocional

É curioso como os filmes de del Toro conseguem ser tão viscerais e, ao mesmo tempo, esteticamente belos. Cada cena é uma pintura. Cada criatura, uma escultura viva. Mas tudo isso tem uma razão: ele não quer que o espectador fuja do medo — quer que o abrace. E, ao fazer isso, transforme-o em catarse.

A iluminação suave, os cenários góticos, a trilha sonora melancólica… tudo trabalha em conjunto para criar um espaço seguro dentro do horror. Não é sobre dar susto. É sobre acolher o que nos assombra.

Esse é talvez o maior poder de Guillermo del Toro: ele faz com que a dor pareça poesia e que o medo seja uma forma de se reconectar com partes esquecidas de nós mesmos.

Conclusão: quando o cinema nos dá licença para sentir

Del Toro não faz filmes apenas para entreter. Ele constrói santuários para traumas que ninguém quis ouvir. E ao colocar beleza nas feridas, nos lembra que somos todos um pouco monstros — e está tudo bem.

Se você já se emocionou com um filme dele, provavelmente sentiu que foi visto de alguma forma. Porque, no fim das contas, é isso que seus monstros fazem: olham nos nossos olhos e dizem “eu te entendo”.

Já pensou em rever O Labirinto do Fauno ou A Forma da Água sob essa nova perspectiva? Talvez o que mais te tocou não tenha sido o medo… mas a humanidade escondida atrás das criaturas.

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Flávia Neves

Editora – Psicóloga de formação, apaixonada por cultura pop, tecnologia e desenvolvimento pessoal. Criadora de conteúdo digital desde 2016.